Trajetória (2008-2017)

 

 

O vídeo acima apresenta o Observatório Saúde nas Mídias - OSM e seus principais delineamentos no período de 2008, sua criação, até o ano de 2017. A partir de então, até o início de 2020, entrou em “recesso”, passando por mudanças substanciais na sua forma de atuar. Neste intervalo foi elaborado o projeto de sua segunda e atual fase, apresentada no tópico O QUE É O OSM. A primeira fase, construída muito solidamente, nos mostrou a importância da continuidade do OSM, embora mudanças fossem necessárias para adequação às novas configurações institucionais, tecnológicas e midiáticas. A seguir você pode encontrar os principais elementos sobre sua gênese e trajetória.

O OSM integra o Laboratório de Pesquisa em Comunicação e Saúde (Laces) do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz). Sua origem remonta à pesquisa “Avaliação da Comunicação na Prevenção da Dengue” (2003 a 2007), coordenada por Inesita Araujo, que incluiu um experimento sobre a observação dos processos de produção de sentidos sobre saúde, contemplando olhares de jornalistas, técnicos e população. Em 2008, foi criado o Observatório Saúde na Mídia, com coordenação inicial de Umberto Trigueiros e posteriormente Katia Lerner, ambos do Icict. O OSM contou com a parceria da Fiocruz Pernambuco, da Fiocruz Brasília e da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, através da revista Radis, além da colaboração da Coordenadoria de Comunicação Social da Presidência da Fiocruz.

O OSM se propôs a acompanhar e proceder a análises críticas sobre os modos pelos quais os meios de comunicação produzem sentidos sobre o SUS e sobre temas específicos da saúde, bem como contribuir para a luta pela democratização da comunicação na sociedade em geral e na saúde em particular. Sua ação estava estruturada em quatro movimentos: 

1. Monitorar meios de comunicação de grande circulação, em especial a imprensa escrita, na abordagem dos temas da saúde. Foram monitorados diariamente alguns periódicos impressos de grande circulação no país: O Globo e O Dia (Rio de Janeiro); Folha de S. Paulo, Jornal da Tarde e o Estado de São Paulo (São Paulo); Correio Braziliense (Brasília); Jornal do Commercio e Folha de Pernambuco (Recife). Zero Hora (rio Grande do Sul). Assim, contemplamos jornais de referência e de caráter popular, além de jornais fora do Eixo Rio-São Paulo. O período de monitoramento foi diversificado. Entre 2010 e 2011 foram também monitoradas as emissoras:  TV Globo à   Jornal Nacional, Jornal Hoje, RJ TV, DF TV, NE TV; TV Record à  RJ Record, DF Record; SBT à TV Jornal Notícias; TV Brasil à Repórter Brasil.   

2. Selecionar, categorizar e lançar as matérias num banco de dados. As informações referentes aos conteúdos sobre saúde, selecionados a partir de uma categorização prévia, foram incluídas em uma base eletrônica, capaz de fornecer subsídios para a realização de estudos qualitativos sobre diferentes temas. Até 2013 as páginas impressas foram digitalizadas; depois, passamos a capturar a página do jornal em pdf e assim foram arquivadas e indexadas no banco de dados. Um dos principais desafios que enfrentamos foi a definição dos conteúdos que poderiam ser identificados como de saúde. Não se pode definir a priori recortes temáticos, como “Sus na mídia”, “saneamento” etc., sendo necessário uma permanente aproximação com as lógicas de funcionamento da mídia, de modo a perceber as várias maneiras – mais e menos explícitas – pelas quais os jornais associam a saúde ao texto jornalístico.

3. Analisar os modos pelos quais os meios de comunicação constroem discursivamente os sentidos da saúde e do SUS. As pesquisas utilizaram, em geral, a Análise Social de Discursos, que correlaciona os textos com seus contextos, percebidos como condições de produção e circulação (condições sociais, econômicas, políticas, institucionais e situacionais).

Analisar a saúde na mídia pode envolver diferentes métodos e graus de profundidade variados. Para um aprofundamento da análise qualitativa, O OSM desenvolveu estudos de horizonte temporal mais amplo, tendo como perspectiva teórico-metodológica privilegiada a Semiologia dos Discursos Sociais. Entre os produtos desse movimento analítico, tivemos:

-  Relatórios mensais: análises conjunturais sobre os temas de destaque no mês. Além de uma breve descrição quantitativa, com destaque para a distribuição por jornal e para o caráter opinativo ou noticioso dos textos, buscou-se identificar e explicitar os mecanismos através dos quais a mídia propõe sentidos sobre determinada temática, destacando interesses defendidos pelos veículos.

-  Análises qualitativas: investigações de caráter acadêmico através de projetos de pesquisa e trabalhos de pós-graduação stricto e lato sensu. Buscamos responder, entre outras questões: O que falam? (tema saúde nos jornais); quem fala? (vozes contempladas); como falam? (os modos do dizer); onde falam? (contexto textual); que redes de sentido foram mobilizadas? (contexto intertextual).  

 

4. Fazer circular para pesquisadores, gestores, técnicos e para a população em geral, por diversos meios, os resultados dessas análises. A circulação ocorreu em eventos científicos, publicação de artigos, cursos, livros  e relatórios,  além da própria página do OSM na Internet. Também produzimos eventos específicos.

Em 2010, estabelecemos uma parceria com o Núcleo de Comunicação da Secretaria de Vigilância em Saúde (Nucom/SVS) do Ministério da Saúde (MS), com duração de um ano. A parceria levou à produção de  relatórios científicos: um  sobre a cobertura midiática sobre a dengue nos períodos de pico epidemiológico (2009/2010) e cinco sobre a Influenza H1N1, no contexto de surgimento da doença e da campanha Nacional de Vacinação do MS (2009 e 2010, respectivamente). Os documentos ofereceram subsídios e informações qualificadas para a tomada de decisões sobre as relações entre governo e mídia em situações de risco. 

Vínculo pesquisa-ensino: iniciativa premiada

O Observatório manteve forte vínculo com o Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS/Icict/Fiocruz). Em 2011, realizamos o curso de atualização “Saúde e Jornalismo: modos de produzir e analisar”, para jornalistas e assessores de comunicação e profissionais da saúde que atuavam no campo da comunicação. O curso resultou no livro Saúde e Jornalismo – Interfaces Contemporâneas, financiado pela Faperj (2014), reunindo trabalhos de docentes, pesquisadores e alunos, tendo sido tema do programa Ciência e Letras, do Canal Saúde, da Fiocruz, acessível neste link

Em 2012, com apoio do Programa de Indução à Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (PIPDT), procedemos à digitalização do material impresso coletado - mais de 15 mil folhas de jornais com textos sobre saúde. O PIPDT também proporcionou mudanças na forma de organização do material arquivado, com um mais ágil modo de recuperação e cruzamento de metadados.  

As atividades de pesquisa do OSM envolveram pesquisadores e alunos de mestrado e doutorado em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS) e do curso de especialização em Comunicação e Saúde (Icict) e geraram visibilidade e reconhecimento da comunidade acadêmica, por meio de prêmios, entre outros, menção honrosa no III Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas/2005, menção honrosa no IX Cogresso Brasileiro de Saúde Coletiva/2009, o  segundo lugar no Prêmio Freitas Nobre (categoria doutorado) do XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação Intercom/2011, o primeiro lugar do mesmo prêmio no ano seguinte, indicação de trabalho na categoria mestrado no 12º. Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o Sistema Único de Saúde, do MS e o livro Saúde e Jornalismo : interfaces contemporâneas foi finalista do 57o Prêmio Jabuti, organizado pela Câmara Brasileira do Livro, em 2015.

Também em 2015, iniciamos  parceria com a UFES, com a publicação da  tese  “Doenças Midiaticamente Negligenciadas: cobertura e invisibilidade de temas sobre saúde na mídia impressa", da dissertação Interfaces da Comunicação e Saúde na Mídia Impressa e   o projeto de pesquisa "O drama epidêmico midiático no Brasil: um estudo da construção da dengue e H1N1 (2008-2010)". 

Nos últimos anos, o OSM monitorava apenas os jornais O Globo e Folha de São Paulo, reduzindo sua abrangência, pelas mesmas circunstâncias institucionais e pessoais que modificaram a conformação da equipe e afetaram a capacidade de cumprir o objetivo de monitoramento diário. Somando-se a isto as mudanças ocorridas nos cenários político, tecnológico e epistemológico-teórico, decidimos que era hora de fazer uma pausa e reconfigurar o projeto, em novas bases.